Alma



Hoje ao acordar, senti o dia estranho, mais um daqueles dias misteriosos que fico na expectativa que algo vai dar errado, dia de céu cinzento e pouco barulho nas ruas.

Não demorou muito quando recebi uma mensagem que alguém próximo a mim vinha a falecer. O velório seria mais tarde. Então fui até o cemitério. Chegando lá tinha uma mulher que parecia ter uns quarenta e poucos anos, usava um óculos de armação preta, cabelo preso com um tradicional coque, sua roupa parecia de uma pessoa bem religiosa, e ela tinha uma cara de louca, isso todos percebiam, até pela historia que ela contara. Tive a impressão que aquela senhora visitava vários velórios. 

No momento que cheguei ela estava contando que em um velório que ela visitara, ela olhava bem para o corpo desalmado e viu quando algo verde, uma fumaça ou um plasma talvez flutuava sob o corpo de um pequeno garoto que estava no caixão com seu delicado rosto contrastando com as grotescas feridas provocadas pelo acidente que levou sua inocente vida. Enquanto ela contava em momentos ela olhava fixamente em meus olhos, apesar de os outros nem ligar muito pra mim. Acho que nem me perceberam. E enquanto ela falava oque parecia loucura, seu conto se misturava ao choro de uma outra mulher que parecia ser a mãe do garoto. A dor dessa mulher era grande, me tocava. Decidi parar de ouvi-la e chegar próximo do caixão e ver quem era a pessoa, quando olhei para o rosto do falecido não consegui enxergar seu rosto, havia algo de errado, pois eu via tudo perfeitamente, exceto o rosto que se mostrava embaçado para mim. Fiquei louco, mas me sentia como se já tivesse passado por aquilo alguma vez.

Instantaneamente apareci em um lugar silencioso e calmo, um nada. 
É  ...relembrei que só era oque vem acontecendo comigo a mais ou menos uns 300 anos. Minha alma não desgruda da dor daquele dia. Aquele garoto era eu mesmo, minha alma todos os dias não consegue esquecer a dor daquele dia, onde um infeliz irresponsável me assassinou com um caro a quase 200 km/h na avenida, quando eu atravessava a rua vindo do supermercado com uma sacolinha de carne para o jantar que nunca tive.

É assim a morte, os vivos não possuí vínculo algum com as almas sem corpo. Mas as almas nunca perdem o vínculo com os acontecimentos passados. Hoje você não sente a dor de uma alma. Mas cada alma perdida sente a dor que nós mesmos passamos na Terra.

#RobertoNeves
ROBERTO NEVES
Designer gráfico, designer de moda, estudo Ciências Contábeis, interesso por coisas incomuns além de artes e música. Violonista clássico.   : )
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